Fazer uma viagem à Chapada dos Veadeiros, em Goiás, é uma daquelas experiências que se leva para a vida toda. Como diz Ivan Anjo Diniz, um poeta e guia da região que conheci, se tem algo que você leva da Chapada é a vontade de voltar para lá. Nada mais verdadeiro! Fiz um roteiro para a Chapada dos Veadeiros e, desde então, o desejo de voltar só cresce.
O destino fica em uma área de proteção integral à natureza no centro-oeste do país, mais especificamente ao longo de cinco municípios de Goiás, entre eles São João d’Aliança, Cavalcante e Alto Paraíso de Goiás. É neste último que você encontrará maior infraestrutura, grande parte dos atrativos da região e a porta de entrada para o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.
Morro da Baleia ao fundo, na Chapada dos Veadeiros. Créditos: Stella Papoy Szczerbenko
Além da paisagem linda do cerrado – que eu nunca vi nada igual -, das cachoeiras, dos lugares de beleza exótica, entre outras atrações, o lugar é envolto de misticismo. Dizem que a Chapada está situada sobre uma placa de cristal de quartzo, uma das formações geológicas mais antigas da Terra, o que lhe confere uma vibração energética especial. Além disso, passa por ali o paralelo 14, a mesma linha imaginária que corta a lendária Machu Picchu, no Peru, reforçando ainda mais o misticismo que cerca o local.
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O meu roteiro para a Chapada dos Veadeiros levou quatro dias, o que já adianto: é pouco! Sobretudo se você quiser explorar a beleza e todos os cantos incríveis dessa região. Abaixo detalho o roteiro que fiz acompanhada do meu namorado e de duas amigas (além dos novos amigos que ganhamos ao longo do caminho :D).
Por falar em amigos
A Chapada dos Veadeiros realmente tem uma energia especial. Tanto os conterrâneos quanto os turistas que viajam para lá costumam estar abertos e muito dispostos a se relacionar uns com os outros. Isso significa que você vai fazer boas amizades na Chapada, seja desfrutando de uma cachoeira, passando um perrengue, curtindo uma roda de música ou ainda nas pousadas e hotéis da região que, em geral, proporcionam um ambiente propício para fazer amizades.
Roteiro
Na pesquisa para fazer o roteiro para a Chapada dos Veadeiros foi difícil escolher qual lugar iríamos deixar de fora, afinal é tudo muito bonito e imperdível. Tarefa difícil, mas optamos em priorizar os lugares que mais nos chamaram a atenção e que eram possíveis de conciliar, levando em consideração questões como tempo e distância dos lugares. Então lá vai:
Dia 1 | Saltos do Rio Preto
Esse é o tipo de lugar que tem que estar no seu roteiro para a Chapada dos Veadeiros. São duas cachoeiras com belezas exuberantes e diferentes de todas as que eu já havia conhecido. Os saltos ficam dentro da área do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, situado no distrito de Alto Paraíso de Goiás, conhecido como Vila de São Jorge. A entrada e o estacionamento do Parque são gratuitos.
A trilha que leva até os Saltos tem cerca de 6 km, e o caminho de volta tem uma longa e árdua subida, que vai exigir um pouco mais de fôlego. Por isso, vá com calma, faça pequenas pausas e, claro, não esqueça de levar água para se hidratar ao longo do percurso, afinal o sol do cerrado é forte durante o ano todo.
A cachoeira menor, de 80 metros, cria um enorme lago em sua base, com águas escuras e muito refrescantes. Já o salto maior, de 120 metros, está localizado em uma área do parque em que não há visitação. Entretanto, você pode vê-lo de um mirante, que proporciona uma vista fantástica. Quando fui, havia até um arco íris, completando a beleza do salto.
Dia 2 | Vale da Lua + Almécegas I e II
Tiramos esse dia para conhecer o Vale da Lua e as Almécegas I e II, duas cachoeiras majestosas. Quando você pesquisa sobre a Chapada, um dos passeios mais recomendados é o Vale da Lua, pois a beleza desse lá realmente destoa de tudo o que nos é comum. Por isso, inclua o Vale no seu roteiro para a Chapada dos Veadeiros.
O Vale da Lua fica em uma propriedade privada à beira da estrada que liga Alto Paraíso de Goiás à Vila de São Jorge. É preciso pagar uma taxa de entrada para visitação. Em 2015, quando fiz minha viagem para lá, não passou de R$ 15. Você fará uma leve caminhada por uma trilha até o Vale e, quando você se depara com o lugar, UAU! O Rio São Miguel percorre enormes pedras de granito esculpidas pela água por mais de 600 milhões anos, desenhando algo como crateras lunares, por isso o nome. Nada menos que incrível!
Na parte da tarde, partimos direto para as Almécegas I e II, que ficam localizadas dentro da Fazenda São Bento, uma propriedade privada que fica na mesma estrada que o Vale da Lua. As trilhas para as duas cachoeiras são cheias de pedras, mas se você está acostumado a “trilhar” ou ainda tem algum preparo físico não sentirá maiores dificuldades.
A Almécegas II está a 300 metros do estacionamento da fazenda e tem um ótimo poço para refrescar. Já a Almécegas I é acessada por uma trilha mais exigente, que inclui uma subida íngreme. Na sua base, um poço maravilhoso e, ao lado dele, um paredão de mais de 15 metros.
Dia 3 | Cachoeira Santa Bárbara + Loquinhas
Esse era um dos dias mais esperados da viagem. Isso porque iríamos conhecer a cachoeira Santa Bárbara, que fica na cidade de Cavalcante, distante a aproximadamente 110 km de Alto Paraíso de Goiás. O lugar tem uma beleza intocada, com poços de águas cristalinas, que mais se parecem com uma piscina de tão surreal. Um paraíso! Além da cachoeira Santa Bárbara, a cidade tem outros belíssimos lugares da Chapada para conhecer.
A rodovia que liga Alto Paraíso a Cavalcante é bem asfaltada e sinalizada. Chegando no centro da cidade, você deve seguir em direção à vila Kalunga Engenho II, onde fica a cachoeira. A estrada que leva até lá não é muito boa, já que é de terra e cheia de pedras. Há ainda um empecilho no meio do caminho: bem próximo à entrada da vila Kalunga, existe um rio, que dificulta o acesso de carros que não sejam 4×4. Caso você não esteja com um modelo desses, pode estacionar o veículo em uma área já destinada para isso e pagar uma quantia para pessoas que ficam lá justamente para auxiliar na travessia do viajante.
Passando esse trecho, você já chegará à simples e charmosa vila Kalunga, uma comunidade de remanescentes de quilombolas. A partir daí, você será abordado por uma liderança da comunidade, que lhe instruirá sobre o pagamento dos guias. Sim, esse passeio exige guias, que são os próprios moradores do local, uma maneira que eles encontraram de preservar a beleza da região o mais intocada possível e garantir o sustento das famílias que ali vivem. Sinceramente, eu adorei a vila e a guia que nos acompanhou. Vale a pena!
Na volta do passeio, partimos direto para as Loquinhas, que fica em uma área de fácil acesso em Alto Paraíso. Por uma estrada em ótimas condições, você chega ao local, também situado em uma propriedade privada. As Loquinhas são uma série de pequenas e deslumbrantes cachoeiras e poços; uma ótima opção para famílias e para aqueles que não querem se aventurar por trilhas, já que o acesso é feito por uma passarela de madeira.
Dia 4 | Cataratas dos Couros
O último dia reservamos para conhecer as Cataratas dos Couros, que fica em São João d’Aliança, cidade vizinha à Alto Paraíso e já no caminho de volta para Brasília, nosso ponto de partida e de retorno da viagem. As Cataratas são um conjunto de quedas que impressiona qualquer um, uma incrível sequência de corredeiras, cachoeiras e poços.
A estrada que dá acesso às Cataratas dos Couros é de terra e possui pouca sinalização. Fomos na cara e na coragem, mas eu super indicaria um guia para fazer o passeio com mais tranquilidade. Próximo do início da trilha, há alguns espaços para estacionar os carros. A partir daí, começamos a caminhada plana de 1 km até as Cataratas. Entretanto, para chegar ao derradeiro mais bacana dos poços é preciso de um pouco mais de habilidade, pois o caminho é de pedra e alguns momentos exigem passos largos.
Conheça também:
Ao me despedir da região fiquei com aquele sentimento de quero mais. Por isso, fazer um roteiro para a Chapada dos Veadeiros de pelo menos uma semana é uma boa pedida. Você vai ter muita coisa legal para fazer todos os dias, eu garanto!
Alguns dos passeios que gostaria de ter feito e que recomendo são:
- Cachoeira da Capivara
- Cânions (Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros)
- Cachoeira do Segredo
- Mirante da Janela
Quando ir?
Viajei para a região em dezembro, época de cheia, quando as cachoeiras ficam ainda mais cheias d’água e exuberantes. Entretanto, o grande alerta durante o período de chuvas é a formação de trombas d’água, muito perigosas e comuns de acontecer na Chapada. Ou seja, se você for nessa época, tome cuidado e a qualquer sinal mínimo de chuva, saia da água.
A verdade é que cada época tem suas peculiaridades e belezas. Há quem recomende viajar para lá no período de seca, entre abril e setembro, que é quando a paisagem do cerrado fica ainda mais bonita. Enfim, vai do que você procura para a sua viagem ou da época que tem disponibilidade para viajar pra lá. No mais, seja qual época que você escolher, apenas vá e customize o seu roteiro para a Chapada dos Veadeiros.
Como chegar?
De ônibus
Há diversas opções para chegar à Brasília de ônibus. Confira abaixo algumas opções de rotas para a sua viagem:
Da capital federal, há uma empresa de ônibus que realiza o percurso diariamente até Alto Paraíso de Goiás.
Mais informações:
Rodoviária de Alto Paraíso de Goiás
Tel: (62) 3446-1359
De avião e de carro
O aeroporto mais próximo é o de Brasília. Chegando na capital do país, uma das opções é alugar um carro e partir para Alto Paraíso de Goiás, em uma viagem de 242 km. Nós optamos por alugar um carro, pois parecia mais conveniente na época.
A estrada que você deve pegar para chegar à Chapada dos Veadeiros é a BR 020, em direção a Formosa (GO). Após a cidade de Planaltina, é preciso prestar atenção ao trevo que indica a GO 118, rodovia que leva até Alto Paraíso de Goiás.
Onde ficar?
Se você fizer a linha de viajante mais mochileiro, prefira as opções de hospedagens da Vila de São Jorge, que são mais simples e próximas do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Além disso, o astral da pequena vila é incrível. Na estrada que liga o distrito ao centro de Alto Paraíso de Goiás, há spas e pousadas com mais infraestrutura, algumas com programação para os praticantes de Yoga.
Mas, se você deseja encontrar maior opção de hospedagens com infraestrutura e conforto, aposte nas que estão localizadas em Alto Paraíso de Goiás. É lá que estão as maiores pousadas, hotéis, campings e hostels da região. Claro que ainda há opções em Cavalcante e em outras cidades que abrangem a Chapada, mas a demanda é menor.
Nós ficamos em um camping na vila de São Jorge e em um hostel na cidade de Alto Paraíso de Goiás. Gostamos dos dois e aproveito para indicá-los.
Hostel Catavento
Foi o primeiro hostel da Chapada dos Veadeiros e, apesar de levar esse nome, o espaço oferece hoje outras possibilidades como suítes privadas e área para camping. São 14 mil metros quadrados de Cerrado bem cuidados e cheios de charme.
Camping Taiuá
Nós adoramos esse lugar! Acampamos em um espaço bem plano, e as áreas comuns do camping são incríveis (veja a foto abaixo). Além disso, os banheiros são bem limpinhos e o preço também é camarada. Pagamos aproximadamente R$ 60 por noite para acampar lá.
Onde comer?
Em sua passagem pela vila de São Jorge não deixe de conhecer o Restaurante Buritis, conhecido como o Spoleto de São Jorge, fazendo a referência à rede de restaurantes. O sistema é realmente no estilo Spoleto (só que sem restrição de quantidade de ingredientes). Ou seja, você come massas deliciosas por um preço bacana. Quando eu viajei para lá, pagamos R$ 15, com direito a repetir uma vez.
E você? Já fez outro roteiro para a Chapada dos Veadeiros? Conta pra gente nos comentários :).
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